Cidade como Currículo e Práticas de Recusa: A Experiência da Ocupação 9 de Julho
DOI:
https://doi.org/10.21814/rlec.6566Palavras-chave:
currículo, arte, território, ocupações urbanas, educação popularResumo
O presente artigo propõe uma abordagem da cidade de São Paulo como estrutura curricular, compreendida não apenas como espaço físico, mas como dispositivo simbólico e pedagógico que organiza formas de vida. Partindo de uma crítica à racionalidade capitalista que estrutura a cidade contemporânea, analisa-se como os processos de urbanização, especialmente no campo da moradia, operam enquanto pedagogias da desigualdade, da obediência e do desencantamento. A partir de referenciais teóricos como Paulo Freire, Raymond Williams e Mark Fisher, o trabalho investiga práticas urbanas que operam como formas de recusa a essa lógica dominante e anunciam outras formas de se viver no espaço urbano. O foco recai sobre o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) e, particularmente, sobre a Ocupação 9 de Julho, situada no centro de São Paulo. Através da análise de suas formas de atuação política — onde a cultura e a arte encontram um lugar privilegiado — e das oficinas de arte realizadas entre os anos de 2018 e 2023, argumenta-se que essas experiências constituem formas alternativas de produção de sentido e de resistência urbana, praticando modos de vida baseados na coletividade, na criação e na participação. Conclui-se que, embora hegemonicamente organizada pelo capital, a cidade também abriga práticas formativas que desestabilizam suas normas e anunciam outros modos possíveis de existência e convivência.
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