Cinema e Realidade Virtual nas Aulas de Arte Como Meio Para Promover Integração Social e Cultural

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/rlec.6551

Palavras-chave:

cultura visual, direito a olhar, arte-educação, capitalismo digital

Resumo

Este artigo propõe um debate sobre a experiência estética, mediada pela tecnologia, em ações pedagógicas com cinema e realidade virtual nas aulas de arte em escolas públicas brasileiras. Parte-se da problemática em torno da colonialidade, configurando-a como um meio de dominação que perpetua desigualdades sociais e culturais em países periféricos, utilizando-se da visualidade como mecanismo para classificar, hierarquizar e estetizar povos e seus territórios. Museus e cinemas, podem contribuir na recomposição do “direito a olhar” por promoverem contato com expressões de contravisualidade. Porém, uma das consequências da desigualdade estrutural são as dificuldades de acesso a estes espaços devido a problemas de mobilidade urbana e infraestrutura. A educação tem um papel importante em minimizar esses efeitos, promovendo experiências estéticas com as tecnologias de apreciação e produção de imagens. A hipótese central deste texto sugere que práticas pedagógicas envolvendo o cinema e a realidade virtual, pautadas por ações de apreciação e produção de imagens, podem promover a alteridade e expandir percepções subjetivas ao democratizar e capilarizar o acesso à arte. Por meio de um estudo bibliográfico, explora-se implicações ético-estéticas da produção de imagens em ações pedagógicas. As discussões dos resultados indicam que essa experiência estética imersiva permite que os estudantes desenvolvam e qualifiquem seus pontos de vista em busca do seu “direito a olhar”, potencializando uma conexão crítica e inclusiva com a cultura. Conclui-se que tais dispositivos tecnológicos, com a mediação adequada, possibilitam aos estudantes a apropriação de sua cultura e a criação de imagens que refletem suas identidades, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais inclusivo e instaurando habitus que contribui para suspender hierarquias sociais e culturais.

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Biografias Autor

Karine Joulie Martins, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Karine Joulie Martins é pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bacharel em Cinema e licenciada em Artes Visuais, fez mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, investigando interlocuções entre cinema e educação sob a perspectiva da arte e da mídia-educação. Desenvolve projetos de formação docente para o trabalho com cinema, audiovisual e cultura digital, além da curadoria, programação e mediação de mostras de cinema, cineclubes e exposições multimidiáticas. Conta com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Luciano Dantas Bugarin, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Luciano Dantas Bugarin é mestre em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense, especialista em Bullying, Violência, Preconceito e Discriminação na Escola pela Universidade Federal de São Paulo, licenciado em Educação Artística com habilitação em Desenho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2008). Atualmente é doutorando em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e a atua como professor de Artes Plásticas da Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro. Conta com o financiamento da Escola de Formação Paulo Freire/Centro de Referência Anísio Teixeira.

Adriana Mabel Fresquet, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Adriana Mabel Fresquet é professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordena o Programa de Extensão Cinema, Aprender e Desaprender, que realiza atividades de iniciação ao cinema em escolas públicas e no hospital universitário. É uma das fundadoras da Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual (Rede Kino). Coordena a coleção “Alteridade e Criação” da Autêntica Editora e a coleção “Cinemas e Educações” da Editora Multifoco. Conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

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Publicado

2025-09-03

Como Citar

Martins, K. J., Bugarin, L. D., & Fresquet, A. M. (2025). Cinema e Realidade Virtual nas Aulas de Arte Como Meio Para Promover Integração Social e Cultural. Revista Lusófona De Estudos Culturais, 12(2), e025011. https://doi.org/10.21814/rlec.6551

Edição

Secção

Artigos temáticos