O tempo da comunidade e o tempo do turismo: notas sobre duas festas
DOI:
https://doi.org/10.21814/rlec.2368Palavras-chave:
festa, Bugiada e Mouriscada de Sobrado, Semana Santa de Braga, tempo, sustentabilidade, comunidadeResumo
Este artigo explora algumas das principais implicações e desafios que o processo crescente de turistificação das festas de caráter religioso e popular pode representar para as comunidades locais, num momento em que se tornam ofertas turísticas potenciais, com exposição crescente nos mais diversos tipos de média. Em Portugal, celebram-se anualmente muitas festas populares que, sendo de caráter religioso, são expressão do entrecruzamento de elementos diversos, ligados tanto ao tempo sagrado, como ao tempo natural e agrícola e ao tempo profano.
Tal como acontece com outros tipos de eventos de caráter popular e religioso, as festas são cada vez mais perspetivadas como potenciais “produtos” turísticos que servem para expor a singularidade das comunidades detentoras e atrair a atenção de visitantes. Neste texto, pretende-se discutir a dificuldade teórica e metodológica de pensar separadamente o tempo da comunidade, do tempo do turismo, atendendo ao caráter identitário que a festa adquire. Este exercício é baseado numa exploração de informação recolhida em trabalhos realizados e em curso acerca de duas festividades que passam, cada uma a seu modo, por estes processos na atualidade: a Bugiada e Mouriscada ou S. João de Sobrado e a Semana Santa em Braga.
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