Vacinação Contra a Covid-19 — Uma Análise da Comunicação de Saúde das Fontes Oficiais Portuguesas em Ambiente Digital
DOI:
https://doi.org/10.21814/rlec.3593Palavras-chave:
covid-19, vacinação, fontes oficiais, comunicação de saúde, comunicação estratégicaResumo
A pandemia por covid-19 tem colocado complexos desafios às instituições governamentais e de saúde em todo o mundo. Para além da dificuldade em controlar a disseminação da infeção, as instituições têm de encetar um processo de comunicação de saúde particularmente difícil de gerir, por causa do elevado grau de incerteza associado à informação de que dispõem, do aumento da desinformação resultante de um ambiente mediático pulverizado (e, muitas vezes, sem mediador) e da resistência de alguns grupos da sociedade em aderir às medidas preventivas recomendadas. A vacinação surge, pois, como um tema que alimenta posições extremas — desde a ânsia pela sua disponibilidade (que potencia tentativas ilícitas de obtenção da vacina) até à sua recusa intransigente (baseada em teorias sem fundamentação médico-científica). Neste enquadramento, pretendemos avaliar a forma como as fontes oficiais — as principais instituições governamentais e de saúde portuguesas — comunicam com os seus públicos em ambiente digital, nomeadamente através dos websites e das redes sociais online. Para isso, foram recolhidos os conteúdos sobre vacinação publicados em cinco sites e quatro páginas nas redes utilizadas pelas fontes analisadas, no período compreendido entre o anúncio da autorização da primeira vacina e o arranque da administração da segunda dose aos profissionais de saúde. O material em estudo foi examinado através de técnicas de análise de conteúdo. Os resultados revelaram que as principais fontes oficiais portuguesas chamam a si o protagonismo em torno da vacinação contra a covid-19, que declinam em três temas fundamentais — administração, definição de grupos prioritários e abordagens genéricas, através de conteúdos com um enquadramento maioritariamente informativo. Atendendo a que a comunicação de saúde tem como objetivos envolver, capacitar e influenciar os indivíduos, concluímos que as fontes oficiais promoveram formas de comunicação conservadoras, perdendo potencialmente a oportunidade de fomentar uma comunicação em ambiente digital mais pedagógica e personalizada.
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