A “Cidade Amiga do Idoso” Acidental: Expetativa Pública e Experiência Subjetiva em São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.21814/rlec.3649Palavras-chave:
cidades inteligentes, envelhecimento ativo, exclusão digital, cidadania, cidade acidentalResumo
Dois projetos de otimização, promovidos globalmente, visam responder aos desafios da vida urbana na contemporaneidade. O primeiro é o das Cidades Inteligentes, estruturadas a partir de um aparato tecnológico e informacional que passa a mediar a gestão da cidade, seu consumo e eficiência. O segundo é o das Cidades Amigas do Idoso, estruturadas a partir de ambientes que visam capacitar o crescente contingente idoso para o envelhecimento ativo na cidade. Moldados em um sistema neoliberal, ambos os projetos se apresentam como instâncias emancipadoras do cidadão para o exercício de uma cidadania participativa. Este artigo propõe que as cidades inteligentes demandem novas competências para o envelhecimento ativo na cidade, resultando em desafios para as cidades amigas do idoso no que toca à exclusão e literacia digital. Situando essa discussão no contexto brasileiro, propomos que para os idosos nem um projeto nem outro se realiza integralmente. Entretanto, a partir de uma perspectiva etnográfica, mapeamos como um grupo de idosos de São Paulo constrói uma rede informacional própria, centrada no WhatsApp, que viabiliza instâncias participativas e de pertencimento a partir de uma perspectiva “de baixo”. É nesse descompasso entre projeto e experiência urbanos que apontamos para a emergência de uma cidade acidental, informal, mas inteligente e amiga do idoso.
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