O tempo da comunidade e o tempo do turismo: notas sobre duas festas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/rlec.2368

Palavras-chave:

festa, Bugiada e Mouriscada de Sobrado, Semana Santa de Braga, tempo, sustentabilidade, comunidade

Resumo

Este artigo explora algumas das principais implicações e desafios que o processo crescente de turistificação das festas de caráter religioso e popular pode representar para as comunidades locais, num momento em que se tornam ofertas turísticas potenciais, com exposição crescente nos mais diversos tipos de média. Em Portugal, celebram-se anualmente muitas festas populares que, sendo de caráter religioso, são expressão do entrecruzamento de elementos diversos, ligados tanto ao tempo sagrado, como ao tempo natural e agrícola e ao tempo profano.
Tal como acontece com outros tipos de eventos de caráter popular e religioso, as festas são cada vez mais perspetivadas como potenciais “produtos” turísticos que servem para expor a singularidade das comunidades detentoras e atrair a atenção de visitantes. Neste texto, pretende-se discutir a dificuldade teórica e metodológica de pensar separadamente o tempo da comunidade, do tempo do turismo, atendendo ao caráter identitário que a festa adquire. Este exercício é baseado numa exploração de informação recolhida em trabalhos realizados e em curso acerca de duas festividades que passam, cada uma a seu modo, por estes processos na atualidade: a Bugiada e Mouriscada ou S. João de Sobrado e a Semana Santa em Braga.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Amirou, R. (2007). Imaginário Turístico e Sociabilidades de Viagem. Porto: Estratégias Criativas.

Aos milhares de pessoas já presentes em Braga, muitos outros milhares vieram juntar-se-lhes durante o dia de ontem para viver em cheio a Sexta-Feira Santa (1965, 17 de abril). Diário do Minho.

Appadurai, A. (2013) The Future as Cultural Fact: Essays on the Global Condition. London: Verso.

Associação Comercial de Braga (2003). Turismo Religioso – Promoção e dinamização do turismo religioso como motor de desenvolvimento regional. Braga: Associação Comercial de Braga.

Bauman, Z. (1999). Globalização. As consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Bravo, C. (2010). Hacia una narrativa de la naturaleza: la psicología ante el reto sustentable. Polis: Revista Latinoamericana, 26. Retirado de http://journals.openedition.org/polis/736

Catala-Perez, D. (2013). Cultural tourism and festivals: seeking a sustainable relationship. In M. M. Molina, V. S. Campos & M. V. S. Oña (Eds.), Tourism & Creative Industry. Workshop Proceedings (pp. 165-166). Valência: Universitat Politècnica de València.

Catenacci, V. (2001). Cultura popular entre a tradição e a transformação. São Paulo em Perspetiva, 15(2), 29-35. http://doi.org/10.1590/S0102-88392001000200005

Domínguez, A. Q. (2019). Turismofobia, ou o Turismo como fetiche. Revista do Centro de Pesquisa e Formação SESC, 12018 [Vol. Especial], 22-30. Retirado de https://www.sescsp.org.br/online/artigo/12160_ALAN+QUAGLIERI+DOMINGUEZ

Durkheim, E. (1979/1912). Les formes élémentaires de la vie religieuse: le système totémique en Australie. Paris: Presses Universitaires de France.

Fernandes, C., Pimenta, E., Gonçalves, F. & Rachão, S. (2012). A new research approach for religious tourism: The Case Study of The Portuguese Route to Santiago. International Journal of Tourism Policy, 4(2), 83–94. http://doi.org/10.1504/IJTP.2012.048996

Formica, S. & Murrmann, S. (1998). The effects of group membership and motivation on attendance: an international festival case. Tourism Analysis, 3(3/4), 197-207.

Gallop, R. (1961/1936). Portugal a Book of Folk Ways. Cambridge: University Press.

Jiménez, M. (2009). Sustentabilidad a dos tiempos. Polis - Revista Latinoamericana, 24(8), 357-382. Retirado de https://journals.openedition.org/polis/1673

Le Berre, S. & Bretesché, S. (2018). Les enjeux sémantiques et temporels du risque à l’heure du développement durable. Temporalités, 28. http://doi.org/10.4000/temporalites.5233

Mckercher, B., Ho, P. & Cros, H. (2004). Attributes of popular cultural attractions in Hong Kong. Annals of Tourism Research, 31(2), 393-407. https://doi.org/10.1016/j.annals.2003.12.008

Mkono, M. (2013). Contested authenticity in Zimbabwean tourist entertainment. Tese de Doutoramento, Southern Cross University, Lismore. Retirado de: https://epubs.scu.edu.au/cgi/viewcontent.cgi?article=1313&context=theses

Némoz, S. (2018). Contretemps et devenirs: les temporalités plurielles de l’habiter à l’heure du développement durable. Temporalités - Revue de Sciences Sociales Et Humaines, 28. http://doi.org/10.4000/temporalites.5618.

Neves, J. M. de O. (2010). Turismo religioso: Espiritualidade, Cultura e Prática Turística? In M. G. M. P. Santos (Ed.), Turismo Cultural, Territórios e Identidades (pp.187 – 195). Porto: Edições Afrontamento.

Parellada, J. (2009, novembro). El turismo religioso. Sus perfiles. Comunicação apresentada nas Jornadas de delegados de Pastoral de Turismo, Ávila.

Parga, E. & Alonso González, P. (2019). Sustainable tourism and social value at world heritage sites: towards a conservation plan for Altamira. Annals of Tourism Research, 74, 68-80. https://doi.org/10.1016/j.annals.2018.10.011

Pinto, M., Ribeiro, R., Nunes, M. J., Araújo, E., Santos, L. A., Cunha, L., Gonçalves, A., Martins, M. L. & Durand, J-Y (2016). Bugiada e Mouriscada de Sobrado: a festa como património. In M. Menezes, J. D. Rodrigues & D. Costa (Eds.), Congresso Ibero-Americano Património, suas Matérias e Imateriais. Lisboa: LNEC/ISCTE-IUL.

Pinto-Coelho, Z. & Pinto, R. (2018). Discursos e imagens do turismo cultural. Revista Lusófona de Estudos Culturais, 5(2), 7-21.

Quinn, B. (2009). Festivals, events and tourism. In T. Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Studies. http://dx.doi.org/10.4135/9780857021076.n27

Rickly-Boyd, J. M. (2012). Authenticity & aura: A Benjaminian approach to tourism. Annals of Tourism Research, 39(1), 269-289. https://doi.org/10.1080/14616688.2012.762691

Ritzer, G. & Liska, A. (1997). McDisneyization" and "post-tourism": complementary perspectives on contemporary tourism. In C. Rojek & J. Urry (Eds.), Touring Cultures: Transformation of Travel and Theory B2 - Touring Cultures: Transformation of Travel and Theory (pp. 96-109). London: Routledge.

Santos, I. N. & Azevedo, J. (2019). Compressão do espaço-tempo e hiperlocalização: os novos flâneurs. Comunicação e Sociedade, 35, 239-257. https://doi.org/10.17231/comsoc.35(2019).3141

Santos, M. da G. M. P. (2006). Espiritualidade, Turismo e Território – Estudo geográfico de Fátima. São João do Estoril: Edição Principia.

Secall, R. (2009). Turismo y Religión. Aproximación histórica y evaluación del impacto económico del turismo religioso. Retirado de https://www.diocesisoa.org/documentos/ficheros/Esteve_Rafael_-_texto_786.pdf

Semana Santa deve promover justiça social e humanismo (2015, 29 de março). Diário do Minho.

Silva, M. & Ribeiro, R. (2018). O turismo religioso em Braga: a perspetiva dos residentes sobre a Semana Santa. In E. Araújo, R. Ribeiro, P. Andrade & R. Costa (Eds.), Viver em|a mobilidade: rumo a novas culturas de tempo, espaço e distância. Livro de atas (pp. 162-172). Braga: CECS

Tendeiro, I. (2010). A Igreja de Santo António de Lisboa e o Turismo Religioso. Dissertação de Mestrado em Turismo, Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, Portugal.

Turismo Porto e Norte de Portugal (2011). Estudo do perfil do turista na Semana Santa em Braga. Braga: Turismo Porto e Norte de Portugal.

Tutiaux-Guillon, N. (2013). Éduquer au développement durable ou enseigner le développement durable en histoire-géographie: enjeux sociopolitiques et discipline scolaire. Revue Phronesis, 2(2), 114-121.

UNWTO (2016). Network of Religious Tourism. Project Brief. Retirado de http://cf.cdn.unwto.org/sites/all/files/pdf/nrt_proposal_flyer-14july2016-lowres.pdf

Wiśniewski, L. (2019). Religious tourism in Christian sanctuaries: the implications of mixed interests for the communication of the faith. Church, Communication and Culture, 3(3), 199-220. https://doi.org/10.1080/23753234.2018.1537674

Publicado

2019-12-20

Como Citar

Araújo, E., Silva, M., & Ribeiro, R. (2019). O tempo da comunidade e o tempo do turismo: notas sobre duas festas. Revista Lusófona De Estudos Culturais, 6(2), 89–107. https://doi.org/10.21814/rlec.2368