Contribuições de Dois Documentários Latino-Americanos Para uma Percepção Ampliada das Mudanças Climáticas a Partir de uma Leitura Decolonial
DOI:
https://doi.org/10.21814/rlec.5469Palavras-chave:
documentário, contranarrativa, decolonial, crise climática, América LatinaResumo
A constituição de uma nova sensibilidade em relação à crise ambiental tem sido pauta, direta ou indiretamente, de diversos atores sociais e produtos midiáticos. Destes, destacam-se os filmes e vídeos que focam a temática ambiental, em função do papel relevante que a cultura audiovisual representa hoje. Com essas premissas, este artigo foca os documentários latino-americanos Hija de la Laguna (2015) e A Mãe de Todas as Lutas (2021), com o propósito de discutir suas possíveis contribuições para uma percepção ampliada das causas climáticas. A partir da análise fílmica centrada nas protagonistas e nas escolhas estéticas e estilísticas de cada obra, este texto investiga como as narrativas dos dois documentários entrelaçam informação e conhecimento subjetivo; indivíduo e coletivo; local e global; memória pessoal e arquivos públicos; entre outros marcadores argumentativos. Essas categorizações são cotejadas ao posicionamento decolonial, assumido no texto de forma ampla, isto é, em diálogo com autores que incorporam as lutas das populações indígenas e/ou marginalizadas à teoria decolonial. Dentre os resultados encontrados, ressaltamos que os documentários estabelecem contranarrativas que permitem identificar a emersão do protagonismo feminino nas lutas pela posse da terra e da água, o posicionamento crítico em relação ao extrativismo (e neoextrativismo) e a permanência dos preconceitos étnico-raciais. Ressalta-se, ainda, nos dois filmes, a constituição de uma linguagem documentária que valoriza o sujeito, sem deixar de articulá-lo ao contexto social.
Downloads
Referências
Acosta, A. (2016). O bem viver — Uma oportunidade para imaginar outros mundos. Autonomia Literária; Elefante.
Acosta, A. & Brand, U. (2018). Pós-extrativismo e decrescimento — Saídas do labirinto capitalista. Elefante.
Alier, J. M. (2018). O ecologismo dos pobres: Conflitos ambientais e linguagens de valoração (2ª ed.). Contexto.
André. (2012, 12 de janeiro). A água contra o ouro, na Minas Conga, no Peru. Instituto Humanistas Unisinos. https://www.ihu.unisinos.br/noticias/505632-a-agua-contra-o-ouro-na-minas-conga-no-peru
Aráoz, H. M. (2020). Mineração, genealogia do desastre — O extrativismo na América como origem da modernidade. Elefante.
Aumont, J. & Marie, M. (2009). A análise do filme. Edições Texto & Grafia.
Barbosa, C. (2020, 17 de abril). Massacre de Eldorado do Carajás completa 24 anos: “Um dia para não esquecer”. Brasil de Fato. https://www.brasildefato.com.br/2020/04/17/massacre-de-eldorado-do-carajas-completa-24-anos-um-dia-para-nao-esquecer
Bragança, M. (2011). Metáforas à mesa: Bustillo Oro, Buñuel, Ripstein e o melodrama familiar mexicano. In T. Amancio & M. C. Tedesco (Eds.), Brasil – México: Aproximações cinematográficas (pp. 169–189). Editora da UFF.
Cabellos, E. (Diretor). (2015). Hija de la laguna [Filme]. Guarango – Cine e Vídeo.
Carvajal, J. P. (2020). Uma ruptura epistemológica com o feminismo ocidental. In H. B. Hollanda (Ed.), Pensamento feminista hoje — Perspectivas decoloniais (pp. 195–204). Bazar do Tempo.
Castro, J. E., Heller, L., & Morais, M. P. (Eds). (2015). O direito à água como política pública na América Latina — Uma exploração teórica e empírica. Ipea.
Dilger, G. & Pereira Filho, J. (2016). Apresentação à edição brasileira – Ousar pensar “fora da caixa”. In Dilger, G., Lang, M., & Pereira Filho, J. (Eds). Descolonizar o imaginário: Debates sobre o pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento (pp. 13-22). Fundação Rosa Luxemburgo.
Dias, S. (2007). Uma verdade inconveniente. Com Ciência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, (85).
Domingues, J. E. (s.d.). Prisão de Atahualpa, imperador inca. Ensinar História. https://ensinarhistoria.com.br/linha-do-tempo/prisao-de-atahualpa-imperador-inca/
Duvall, J. A. (2017). The environmental documentary — Cinema activism in the twenty-first century. Bloomsbury Academic.
Fanon, F. (2005). Os condenados da Terra. Editora da UFJF.
Ferdinand, M. (2022). Uma ecologia decolonial — Pensar a partir do mundo caribenho. Ubu Editora.
Ferreira, L. C. (Ed.) (2011). A questão ambiental na América Latina. Editora Unicamp.
Ferreira, L. C. (2012). A questão ambiental — Sustentabilidade e políticas públicas no Brasil. Boitempo.
Gonzalez, L. (2020). Por um feminismo afro-latino-americano. In H. B. Hollanda (Ed.), Pensamento feminista hoje — Perspectivas decoloniais (pp. 38–51). Bazar do Tempo.
Guggenheim, D. (Diretor). (2006). Uma verdade inconveniente [Filme]. Laurence Bender Productions; Paramount Vantage.
Hollanda, H. B. (2020). Introdução. In H. B. Hollanda (Ed.), Pensamento feminista hoje — Perspectivas decoloniais (pp. 10–34). Bazar do Tempo.
Krenak, A. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras.
Leff, E. (2012). Aventuras da epistemologia ambiental — Da articulação das ciências ao diálogo dos saberes. Cortez.
Linhares, M. Y., & Silva, F. C. T. (2021). Terra prometida — Uma história da questão agrária no Brasil. Expressão Popular.
Lira, S. (Diretora). (2021). A mãe de todas as lutas [Filme]. Modo Operante Produções Culturais Ltda.
Lugones, M. (2020). Colonialidade e gênero. In H. B. Hollanda (Ed.), Pensamento feminista hoje — Perspectivas decoloniais (pp. 52–83). Bazar do Tempo.
Maldonado-Torres, N. (2023). Analítica da colonialidade e da decolonialidade: Algumas dimensões básicas. In J. Bernardino-Costa, N. Maldonado-Torres & R. Grosfoguel (Eds.), Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico (2ª ed., pp. 27–53). Autêntica.
Pompeia, C. (2021). Formação política do agronegócio. Elefante.
Quijano, A. (2019). Ensayos en torno a la colonialidad del poder. Del Signo.
Ramos, F. P. (2005). Introdução. In Ramos, F.P. (Org). Teoria contemporânea do cinema. Volume II — Documentário e narratividade ficcional (pp. 14–23). Editora Senac.
Ramos, F. P. (2008). Mas, afinal... O que é mesmo documentário? Senac.
Santos, A. B. (2015). Colonização, quilombos. Modos e significados. UnB; INCTI.
Santos, A. B. (2023). A terra dá, a terra quer. Ubu Editora; PISEAGRAMA.
Segato, R. (2021). Crítica da colonialidade em oito ensaios e uma antropologia por demanda. Bazar do Tempo.
Shohat, E., & Stan, R. (2006). Crítica da imagem eurocêntrica. Cosac Naify.
Sul 21. (2011, 30 de novembro). Sob pressão popular, projeto de mineradora é suspenso no Peru. https://sul21.com.br/ultimas-noticias-internacional/2011/11/depois-de-pressao-popular-projeto-de-mineradora-e-suspenso-no-peru/
Svampa, M. (2016). Extrativismo neodesenvolvimentista e movimentos sociais — Um giro ecoterritorial rumo a novas alternativas? In G. Dilger, M. Lang & J. Pereira Filho (Eds.) (2016). Descolonizar o imaginário: Debates sobre o pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento (pp. 140–171). Fundação Rosa Luxemburgo.
Svampa, M. (2019). As fronteiras do neoextrativismo na América Latina — Conflitos socioambientais, giro ecoterritorial e novas dependências. Elefante.
Zibechi, R. (2022). Territórios em rebeldia. Elefante.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2024 Denise Tavares
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Os autores são titulares dos direitos de autor, concedendo à revista o direito de primeira publicação. O trabalho é licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.