Teias do Eu, Teias do Significado. Três Retratos Fragmentários Femininos na Banda Desenhada Impressa Pós-Digital

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/rlec.4644

Palavras-chave:

banda desenhada experimental, contra-estratégias, cuteness, animatedness, identificação heteropática

Resumo

O presente artigo analisa o trabalho de três artistas contemporâneas, independentes e ativas no panorama da banda desenhada portuguesa: Hetamoé, Joana Mosi e Ana Margarida Matos. Faz uma leitura formal detalhada do seu trabalho, seguindo o artigo fundamental de Peter Wollen sobre contra-cinema. Apesar das ressalvas quanto à adoção de noções absolutas e inequívocas de diferentes media, há suficientes pontos em comum e características narratológicas que proporcionam comparações estimulantes. Tal como no cinema, também na banda desenhada existe um entendimento normativo amplamente aceite do modo de criação de sentido da banda desenhada, contra o qual estas três autoras apresentam aquilo a que se pode chamar, a exemplo de Wollen, estratégias formais de resistência. A banda desenhada portuguesa tem uma história conturbada, que envolve um desenvolvimento económico difícil e a falta de um reconhecimento social mais amplo (como um campo culturalmente relevante). No entanto, os seus domínios e subculturas mais independentes têm dado provas de criadores individuais empenhados, informados e inventivos. As mulheres criadoras não são exceção à regra, e este grupo em particular demonstra três potencialidades para expandir o campo, tanto política como esteticamente. Além disso, estas mesmas estratégias de des/re/construção abordam questões associadas à identidade, ao autorretrato, a questões corporais, à memória e aos próprios processos de criação de significado em que assenta o seu trabalho. As dimensões feministas do seu trabalho, ainda que bastante variadas, permitem detetar interpretações intensas do eu e do papel da mulher num processo mais amplo de autorrealização e vida social. Assim, utilizarei as noções de “cuteness” (fofura) e “animatedness” (animação) de Sianne Ngai para compreender como as três autoras interpretam e constroem o seu eu na banda desenhada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Aumont, J. (1990). L’image. Nathan.

Bell, J. (2020). Radical attention. Peninsula Press.

Bennett, J. (2005). Empathic vision. Affect, trauma, and contemporary art. Stanford University Press. DOI: https://doi.org/10.1515/9781503625006

Costa, S. F. (2022, October 20–30). 4 quartos. Amadora BD — Festival Internacional de Banda Desenhada, Amadora, Portugal.

Groensteen, T. (1999). Système de la bande dessinee. Presses Universitaires de France.

Hetamoé. (2012). Idle odalisque. Clube do Inferno.

Hetamoé. (2013). Onahole. Clube do Inferno.

Hetamoé. (2014). Yonkoma collection. Clube do Inferno.

Hetamoé. (2015a). They say that clovers blossom from promises. In QCDA 2000, (pp. 16–17). Chili Com Carne.

Hetamoé. (2015b). Obscure alternatives. In Clube do Inferno (Ed.), QCDI 3000 – FEAR OF A CAPITALIST

PLANET (pp. 3–8). Chili Com Carne.

Hetamoé. (2016). Muji life. Clube do Inferno.

Hetamoé. (2020). Violent delights. mini kuš!

Highmore, B. (2010). Bitter after taste. Affect, food, and social aesthetics”. M. Gregg & G. J. Seigworth (Eds.), DOI: https://doi.org/10.1215/9780822393047-005

The affect theory reader (pp. 118–137). Duke University Press.

Marx, K., & Engels, F. (2012). The communist manifesto (J. C. Isaac, Ed.). Yale University Press. (Original work published in 1848)

Matos, A. M. (2019). Passe social. Erva Daninha.

Matos, A. M. (2021). Hoje não. Chili Com Carne.

Matos, A. M. (2023a, 4 de março – 27 de abril). Da minha janela à tua é uma palavra de distância. Unpublished one-pager piece [Poster presentation], Janela Discreta, Livraria Barata/Lugar de Cultura, Lisboa, Portugal.

Matos, A. M. (2023b). Grapefruit. mini kuš!

Matos, A. M. (2023c). Untitled. Stripburger # 80, 8–15.

McCloud, S. (1993). Understanding comics. The Invisible art. Kitchen Sink.

Mosi, J. (2021a). Both sides now. Associação Ao Norte.

Mosi, J. (2021b). My best friend Lara. Self-published.

Mosi, J. (2022a). The apartment. mini kuš!

Mosi, J. (2022b, October 20–30). Plan a party and we’ll tell you what cake you are! Unpublished 10-page

comic [Poster presentation]. Amadora BD — Festival Internacional de Banda Desenhada, Amadora, Portugal.

Mosi, J. (2023). Postal dos correios. Limoeiro Real, III, 44–51.

Moura, P. (2008). Memória na banda desenhada: Presença e leituras da memória em sete casos da banda desenhada contemporânea francófona [Master’s dissertation, Universidade Nova de Lisboa]. RUN – Repositório Universidade Nova. http://hdl.handle.net/10362/82178

Moura, P. (2022). Visualising small traumas. Contemporary Portuguese comics at the intersection of everyday DOI: https://doi.org/10.1353/book.109373

trauma. University Press of Leuven.

Ngai, S. (2005). Ugly feelings. Harvard University Press. DOI: https://doi.org/10.4159/9780674041523

Ngai, S. (2012). Our aesthetic categories. Zany, cute, interesting. Harvard University Press.

Orbán, K. (2014). A language of scratches and stitches: The graphic novel between hyperreading and print. Critical Inquiry, 40(3), 169–181. DOI: https://doi.org/10.1086/677340

Schneider, G. (2016) What happens when nothing happens. Boredom and everyday life in contemporary comics. Leuven University Press.

Sousa, A. M. (2020). CUTENCYCLOPEDIA: A theoretical-practical investigation on the kawaii as an aesthetic

category in art and pop culture [Doctoral thesis, Universidade de Lisboa]. ULisboa – Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10451/45935

Trites, R. S. (1997). Waking leeping beauty: Feminist voices in children’s novels. University of Iowa Press. DOI: https://doi.org/10.1353/book17661

Wollen, P. (1972). Godard and counter cinema: Vent d’Est. Afterimage, (4), 6–17.

Žižek, S. (2008). The plague of fantasies. Verso.

Publicado

2023-12-20

Como Citar

Moura, P. (2023). Teias do Eu, Teias do Significado. Três Retratos Fragmentários Femininos na Banda Desenhada Impressa Pós-Digital. Revista Lusófona De Estudos Culturais, 10(2), 113–142. https://doi.org/10.21814/rlec.4644