A Metrópole Carnavalizada: Os Blocos de Rua Como Performances Surrealistas e Situacionistas na Cidade do Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.21814/rlec.3224Palavras-chave:
blocos de rua, carnaval de rua, cidade, situacionismo, surrealismoResumo
O carnaval de rua do Rio de Janeiro, manifestação cultural em franco crescimento nas últimas três décadas, foi alvo de recentes investimentos ordenadores pelo poder público e pelos interesses mercantis. Uma das consequências desta intervenção foi a distinção dos blocos de rua entre oficiais e não-oficiais. É acerca deste segundo tipo de blocos, caracterizados pela espontaneidade e pela horizontalidade, que este artigo tratará, tomando como caso exemplar o Cordão do Boi Tolo. Tais manifestações consubstanciam vivências da cidade que se impõem, do ponto de vista estético e cultural, como experiências criativas de performatização dos corpos. Numa perspectiva política, estas manifestações constituem formas libertárias de ocupação do espaço público e de ressignificação dos usos da cidade. Unindo análise literária, reflexão sociológica e observação etnográfica, o artigo pretende discutir este carnaval de rua como um prolongamento inesperado das propostas surrealista e situacionista de reencantamento do mundo e de manifestação do maravilhoso. Conclui-se que a magia que a literatura opera no surrealismo continua sendo atualizada nas ruas e encruzilhadas do Rio de Janeiro pelos blocos carnavalescos, em sua oposição aos poderes institucionais e ao controle do mercado. É no gozo da cidade pelos foliões que a flânerie se converte em escrita criativa da realidade. É nas ruas da metrópole carnavalizada que a deriva se encontra enraizada nas mais antigas tradições da praça como espaço livre e gratuito de criação popular.
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