Suscitar a palavra a partir de imagens de ficção: uma questão de ciência pública ou de arte pública?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/rlec.2213

Palavras-chave:

entrevista, sociologia pública, arquivo, vídeo-elicitação, ficção

Resumo

Partindo de um dispositivo de entrevistas particular, recentemente testado como parte de um projeto de pesquisa interdisciplinar que associa Sociologia e Cinema, este artigo propõe uma reflexão sobre os problemas envolvidos no uso da vídeo-elicitação, isto é, da condução de entrevistas suscitadas pela visualização de imagens, neste caso imagens de ficção realistas. Primeiro, podemos ver aí um desafio para a pesquisa em Ciências Sociais, quando a vídeo-elicitação tenta superar uma dificuldade conhecida, que está associada ao risco de imposição da problemática aos entrevistados pelo investigador no contexto da pesquisa por entrevista. Segundo, neste caso é possível extrair, de maneira mais ampla, uma questão para a ciência pública, cidadã, que esteja atenta à implicação dos atores sociais nas perguntas e nas suas análises, com respeito pela sua experiência prática para entrar numa forma de co-construção de conhecimento. Finalmente, podemos detetar aí um desafio artístico com a abertura de um novo repertório de expressão pública, combinando, numa forma de arte pública: a produção artística de um tempo passado (o arquivo audiovisual de ficção); a remobilização em escritos multimédia evocando emoção e reação; e o comprometimento por meio de novas mediações tecnológicas numa apropriação estética da fricção da experiência sensível. Nestas condições de reutilização, os arquivos audiovisuais de ficção poderiam encontrar um novo valor que possa ser associado ao movimento de patrimonialização e à busca de raízes que caracterizem as nossas sociedades globalizadas e em mutações permanentes.

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Publicado

2020-06-29

Como Citar

Cesaro, P., & Fournier, P. (2020). Suscitar a palavra a partir de imagens de ficção: uma questão de ciência pública ou de arte pública?. Revista Lusófona De Estudos Culturais, 7(1), 243–255. https://doi.org/10.21814/rlec.2213